As demonstrações financeiras
de uma organização brasileira devem traduzir, cada vez mais, a sua realidade.
Gilvânia Banker
Após
a inclusão das Normas Internacionais da Contabilidade no Brasil, os balanços
das instituições ficaram mais claros e objetivos. As International Financial
Reporting Standards (IFRS) trouxeram uma série de benefícios. Uma premiação nacional
evidencia os dados financeiros, fazendo valorizar ainda mais a nitidez das
informações corporativas.
Em
um universo de dois mil demonstrativos financeiros, apenas 20 foram
selecionados para o prêmio Troféu Transparência, concedido pela Associação
Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac),
Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) e
pela Serasa Experian.
Depois
dessa etapa, entre as 20 companhias, Usiminas, JSL Logística e Eletrobrás
Furnas foram escolhidas os destaques do ano no aspecto contábil. No primeiro
momento, foram escolhidos 15 de capital aberto e cinco de capital fechado. As
selecionadas são consideradas empresas que ultrapassaram os quesitos básicos na
divulgação das informações contábeis.
Responsável
pelo programa, o professor do curso de Ciências Contábeis da FEA/ USP,
Ariovaldo dos Santos, explica que são analisados o grau das informações
contidas nos documentos financeiros e nas notas explicativas dos balanços, na
precisão das informações prestadas e qualidade do relatório da administração,
entre outros. Para Santos, o importante nesse projeto é que ele conta com a
análise de estudantes do curso de Ciências Contábeis da FEA, do mestrado e do
doutorado da USP, e de especialistas da Fipecafi e da Anefac. Santos considera
esse concurso como o Oscar da contabilidade brasileira. “O Troféu Transparência
demonstra para todos os públicos estratégicos que a empresa não só presta
contas das suas atividades, mas também tem o desejo de informar”, declara.
As
empresas vencedoras foram Braskem, Sabesp, CSN (Companhia Siderúrgica
Nacional), Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), Embraer, Gerdau,
Natura, Petrobras, Usiminas (Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais), Vale,
BM&FBovespa, Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), Cosan, JSL,
Localiza Rent a Car, Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), Eletrobrás
Eletrosul, Eletrobrás Furnas, Embasa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento) e
Samarco Mineração.
Segundo
o professor, a ideia da premiação, que existe desde 1997, foi motivada por um
aluno do curso de mestrado. “O prêmio visa a estimular a melhora da qualidade
dos balanços”, explica. Para o coordenador, a visibilidade perante o mercado e
a população são alguns dos principais estímulos para participar da disputa. Os
alunos observam se os demonstrativos estão dentro das normas IFRS. Um estudo
comparado ajuda a certificar se os números estão mesmo de acordo com a
realidade e com a descrição apresentada.
“O
mercado enxerga melhor as corporações de capital aberto reconhecidas pelo
Troféu Transparência porque é um reconhecimento significativo de que os
relatórios refletem o real posicionamento dos dados”, afirma o presidente da
Anefac, João Carlos Castilho Garcia. O executivo salienta que a clareza nas
demonstrações financeiras faz com que o mercado possa tomar decisões com mais
segurança.
Normas internacionais ajudam
a deixar balanços mais completos
A
linguagem dos números passou a ser unificada em todos os países que usam as
International Financial Reporting Standards (IFRS). As novas normas têm
ocasionado uma mudança de postura e de paradigmas no País, aumentado ainda mais
o volume de trabalho na contabilidade. Para o contador e vice-presidente de
Gestão do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRCRS),
Antônio Carlos de Castro Palácios, as IFRS aumentaram, significativamente, o
nível de definição das notas explicativas, que são complementares às
demonstrações contábeis.
Além
disso, salienta Palácios, a mudança possibilita um maior número de informações
sobre a instituição. Para isso, existem pré-requisitos que passam pela
“compreensibilidade, comparabilidade e relevância”. No entanto, o contador deve
ter o discernimento para saber destacar os fatos que preencham esses itens e
que foram importantes durante aquele exercício. Ou seja, os balanços deixaram
de “ser menos numéricos e menos herméticos” para se tornarem mais explicativos.
“A transparência ajuda na compreensão para as pessoas que não são contadoras,
mas que possuem interesse em conhecer determinado negócio”, comenta. Na busca
por uma linguagem menos formal nas notas explicativas, Palácios alerta para que
se tenha o cuidado de a análise não se tornar simplista demais.
Usiminas está comprometida
com a qualidade dos dados financeiros
Um
dos destaques no prêmio promovido pela Anefac, Fipecafi e Serasa Experian foi a
Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A. O vice-presidente de Finanças e
Relações com Investidores da Indústria, Ronald Seckelmann, diz que a premiação
é importante para o País, pois atesta as companhias com as demonstrações
financeiras mais transparentes por meio de avaliações sérias e técnicas.
“A
presença da Usiminas como destaque afirma o seu comprometimento na qualidade
dos dados por meio de reconhecimento nacional. Acreditamos que figurar entre os
selecionados favorece ainda mais a imagem de confiabilidade da Usiminas perante
seus acionistas, investidores potenciais, clientes, instituições financeiras,
empregados, governos e sociedade em geral”, declara.
Oferecer
informações confiáveis não é uma qualidade, mas uma das principais necessidades
da governança corporativa. Pelo menos, segundo o executivo, foi essa
consciência que permitiu garantir essa colocação. Essa prática, de acordo com
ele, determina que tipo de relação se quer estabelecer com o mercado. Além
disso, ele reforça que o comprometimento com as regras garante, de forma clara
e precisa, sua verdadeira posição patrimonial.
“Para
apresentar da melhor maneira possível essas informações, a Usiminas tem a
preocupação não apenas de se relacionar com os órgãos reguladores, mas
aprimorar seus processos internos”, explica. Seckelmann diz que o
reconhecimento da Anefac e seus parceiros é um estímulo acertado. “Não há outro
caminho a não ser avançar mais e mais na qualidade dos dados financeiros,
fortalecendo culturalmente esse processo”, resume.
Eletrosul investe para
produzir balanços com base nos padrões de nível mundial
Com
a contabilidade centralizada em Florianópolis e com uma equipe de 30
profissionais da área, a Eletrosul foi uma das vencedoras na categoria capital
fechado no prêmio promovido pela Anefac e parceiras. De acordo com a entidade,
a sua proposta de construir uma gestão ética ao longo de seus 44 anos de
história tem feito com que ela se destaque no cenário econômico nacional.
O
gerente do departamento contábil, Sandro Rodrigues da Silva, diz que a
implantação das normas internacionais, a partir de 2010, fez com que todo o
grupo se reunisse em diversas e constantes discussões a fim de entender os
impactos das novas regras. A entidade constituiu grupos de trabalho e estudos
para aplicar a nova contabilidade. “Estamos nos aprimoramos constantemente para
poder produzir balanços em nível internacional, no nível IFRS”, comenta.
A
implantação exigiu um trabalho árduo e com muitas mudanças. “Hoje temos duas
contabilidades, uma para as empresas societárias e outra para atender o órgão
regulador que é a Aneel”, explica. O conceito de custos e receitas ganhou outra
conotação. Mudou também a classificação do ativo e do imobilizado na
transmissão. “As IFRS trouxeram melhorias, mas aumentaram ainda mais o trabalho
da equipe”, alega. Para ele, o prêmio é o reconhecimento de todo esse esforço.
“É mais uma forma de estímulo para procurarmos o aprimoramento das nossas
técnicas”.
Fonte: Jornal do Comércio
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