Decisão
unânime do Copom levou taxa básica a nível inédito de 8% ao ano
Mônica
Izaguirre, Murilo Rodrigues Alves e Eduardo Campos
A
taxa básica de juros da economia brasileira caiu para 8% ao ano, menor patamar
da história do Comitê de Política Monetária (Copom), criado em 1996. A decisão
foi tomada em meio a uma expectativa quase unânime quanto ao tamanho do corte.
A maioria esmagadora dos analistas de mercado já esperava que a Selic caísse
0,50 ponto percentual, o que se confirmou.
Como
na reunião de maio, houve consenso entre os diretores do Banco Central, que
formam o colegiado. A reunião foi a mais longa desde agosto de 2011, quando
começou o ciclo de afrouxamento monetário e durou mais de 3 horas e meia.
No
seu tradicional e breve comunicado, o Copom repetiu o texto de maio: "O
Copom considera que, neste momento, permanecem limitados os riscos para a
trajetória da inflação. O comitê nota ainda que, até agora, dada a fragilidade
da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária.
Diante disso, dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias,
o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 8% ao ano, sem
viés".
A
inflação em queda, a piora de indicadores da indústria e do comércio, o incerto
cenário mundial, que também é de desaceleração, explicam por que o mercado já
esperava um novo corte. Por outro lado, quase ninguém apostava em redução maior
do que 0,50 ponto por causa das sinalizações de parcimônia dadas pelo BC. Na
ata de maio e no último relatório trimestral de inflação, a autoridade defendeu
que o processo de flexibilização deveria ser conduzido com parcimônia porque
reduções anteriores na taxa básica de juros ainda não produziram todo o seu efeito
potencial sobre a economia.
"A
opção pela parcimônia de 0,5 ponto percentual se manteve fiel à comunicação
recente do BC", diz o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros. Na
sua opinião, "tanto o Banco Central quanto o governo estão atuando de acordo
com a conjuntura, possivelmente com alguma insegurança inconfessável diante da
hipótese de eventualmente estarem dando estímulos monetários e setoriais
fiscais exagerados, caso as expectativas melhorem um pouco no cenário
global". Para Barros, o cenário mundial "certamente não está pior
atualmente do que antes. Pode-se dizer que ele até melhorou residualmente na
Europa".
O
economista destaca que o monitoramento da conjuntura global (China, Europa e
EUA) será crucial para a trajetória dos juros. Ele acredita que o Copom seguirá
reduzindo a Selic também de olho nos sinais da atividade econômica. Na sua
avaliação, se a atividade não se mostrar claramente melhor no terceiro
trimestre, a Selic poderá chegar a 7,75% ou 7,50% ao ano ou até menos. "Se
a atividade voltar apenas no quarto trimestre, os juros irão ainda mais
abaixo", diz. Ele acrescenta, por outro lado, que não há dúvida sobre a
proximidade do fim do ciclo de afrouxamento monetário iniciado em agosto de
2011. Desde então, a Selic já caiu 4,5 pontos percentuais, saindo de 12,5% para
8% ao ano.
A
última edição da pesquisa Focus, feita pelo BC junto a uma centena de empresas
e bancos, indica que o mercado acredita em mais um corte de 0,50 ponto
percentual em agosto. Seria o último do atual ciclo, com a Selic em 7,5% ao
ano.
O
economista-chefe da BB DTVM, Marcelo Arnosti, diz que o "balanço
confortável de riscos" permitiu ao Copom fazer esse novo corte. Entre os
fatores, ele destaca o comportamento do IPCA, cuja variação acumulada em 12
meses vem recuando e já está abaixo de 5%. Até junho, a inflação do índice
nesse critério foi de 4,92%. E para o ano calendário de 2012, as expectativas
de mercado, que também cederam, apontam inflação de 4,85%, ressalta Arnosti.
O
economista Antônio Madeira, da LCA Consultores, afirma que o quadro econômico
pouco se alterou nos últimos 45 dias para justificar uma decisão diferente da
postura parcimoniosa sinalizada na ata de maio. A recuperação da economia
doméstica está bastante lenta e, pelo canal externo, seguem pressões de baixas
de preços. Para a LCA, está dado como certo mais um corte de 0,5 ponto
percentual em agosto, o que levaria a taxa básica para 7,5% ao ano, nível no
qual ficaria até o quarto trimestre de 2013.
Segundo
o economista-sênior do Espirito Santo Investment Bank, Flávio Serrano, o
mercado de juros futuros deve ver uma intensificação das apostas de que a Selic
pode cair para baixo de 7,5%. Ou seja, além do 0,50 ponto em agosto, que fica
"contratado" pela repetição do comunicado, haveria redução, também em
outubro.
No
entanto, pondera o economista, o espaço para ajustes de baixa nas taxas parece
um pouco limitado, pois os contratos futuros já colocam um corte de 0,15 ponto
no Copom de outubro.
Outro
ponto destacado por Serrano é o aumento nas avaliações de que a Selic pode
levar mais tempo para subir. A curva futura mostra a possibilidade de alta de
juro em junho de 2013, com probabilidade de 1,25 ponto de alta. Antes, o ciclo
de alta projetado teria início em abril, com 1,5 ponto de aperto monetário.
O
foco estará agora, na ata da reunião, que sai na próxima semana. Para Serrano,
o documento deve reforçar a surpresa com o fraco crescimento da economia, mas
manter as indicações de que o segundo semestre será de recuperação.
O
economista-sênior para a América Latina da empresa de análises de mercado
4Cast, Pedro Tuesta, destaca que ao manter o mesmo comunicado de maio, o BC não
dá senso de urgência à tomada de decisão. Com isso, a avaliação do especialista
segue em mais um corte de 0,50, com Selic a 7,5% ao ano e juro estável por
longo período de tempo. Para Tuesta, o BC deve trocar o espaço para cortes
adicionais de juros pela possibilidade de não precisar subir a taxa tão cedo.
A
reunião de ontem marcou a estreia de Luiz Edson Feltrim, até então secretário
Executivo do BC, nomeado diretor de Assuntos Especiais, após ser sabatinado e
ter seu nome aprovado pelo Senado Federal. Trata-se de uma diretoria nova do
BC, que vai cuidar, dentre outros assuntos, da comunicação externa,
principalmente com os usuários do sistema financeiro.
Fonte:
Valor Econômico
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