quinta-feira, 12 de julho de 2012

Copom corta taxa Selic para 8%, nível mais baixo da história


Decisão unânime do Copom levou taxa básica a nível inédito de 8% ao ano
Mônica Izaguirre, Murilo Rodrigues Alves e Eduardo Campos

A taxa básica de juros da economia brasileira caiu para 8% ao ano, menor patamar da história do Comitê de Política Monetária (Copom), criado em 1996. A decisão foi tomada em meio a uma expectativa quase unânime quanto ao tamanho do corte. A maioria esmagadora dos analistas de mercado já esperava que a Selic caísse 0,50 ponto percentual, o que se confirmou.

Como na reunião de maio, houve consenso entre os diretores do Banco Central, que formam o colegiado. A reunião foi a mais longa desde agosto de 2011, quando começou o ciclo de afrouxamento monetário e durou mais de 3 horas e meia.

No seu tradicional e breve comunicado, o Copom repetiu o texto de maio: "O Copom considera que, neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação. O comitê nota ainda que, até agora, dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária. Diante disso, dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 8% ao ano, sem viés".

A inflação em queda, a piora de indicadores da indústria e do comércio, o incerto cenário mundial, que também é de desaceleração, explicam por que o mercado já esperava um novo corte. Por outro lado, quase ninguém apostava em redução maior do que 0,50 ponto por causa das sinalizações de parcimônia dadas pelo BC. Na ata de maio e no último relatório trimestral de inflação, a autoridade defendeu que o processo de flexibilização deveria ser conduzido com parcimônia porque reduções anteriores na taxa básica de juros ainda não produziram todo o seu efeito potencial sobre a economia.

"A opção pela parcimônia de 0,5 ponto percentual se manteve fiel à comunicação recente do BC", diz o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros. Na sua opinião, "tanto o Banco Central quanto o governo estão atuando de acordo com a conjuntura, possivelmente com alguma insegurança inconfessável diante da hipótese de eventualmente estarem dando estímulos monetários e setoriais fiscais exagerados, caso as expectativas melhorem um pouco no cenário global". Para Barros, o cenário mundial "certamente não está pior atualmente do que antes. Pode-se dizer que ele até melhorou residualmente na Europa".

O economista destaca que o monitoramento da conjuntura global (China, Europa e EUA) será crucial para a trajetória dos juros. Ele acredita que o Copom seguirá reduzindo a Selic também de olho nos sinais da atividade econômica. Na sua avaliação, se a atividade não se mostrar claramente melhor no terceiro trimestre, a Selic poderá chegar a 7,75% ou 7,50% ao ano ou até menos. "Se a atividade voltar apenas no quarto trimestre, os juros irão ainda mais abaixo", diz. Ele acrescenta, por outro lado, que não há dúvida sobre a proximidade do fim do ciclo de afrouxamento monetário iniciado em agosto de 2011. Desde então, a Selic já caiu 4,5 pontos percentuais, saindo de 12,5% para 8% ao ano.

A última edição da pesquisa Focus, feita pelo BC junto a uma centena de empresas e bancos, indica que o mercado acredita em mais um corte de 0,50 ponto percentual em agosto. Seria o último do atual ciclo, com a Selic em 7,5% ao ano.

O economista-chefe da BB DTVM, Marcelo Arnosti, diz que o "balanço confortável de riscos" permitiu ao Copom fazer esse novo corte. Entre os fatores, ele destaca o comportamento do IPCA, cuja variação acumulada em 12 meses vem recuando e já está abaixo de 5%. Até junho, a inflação do índice nesse critério foi de 4,92%. E para o ano calendário de 2012, as expectativas de mercado, que também cederam, apontam inflação de 4,85%, ressalta Arnosti.

O economista Antônio Madeira, da LCA Consultores, afirma que o quadro econômico pouco se alterou nos últimos 45 dias para justificar uma decisão diferente da postura parcimoniosa sinalizada na ata de maio. A recuperação da economia doméstica está bastante lenta e, pelo canal externo, seguem pressões de baixas de preços. Para a LCA, está dado como certo mais um corte de 0,5 ponto percentual em agosto, o que levaria a taxa básica para 7,5% ao ano, nível no qual ficaria até o quarto trimestre de 2013.

Segundo o economista-sênior do Espirito Santo Investment Bank, Flávio Serrano, o mercado de juros futuros deve ver uma intensificação das apostas de que a Selic pode cair para baixo de 7,5%. Ou seja, além do 0,50 ponto em agosto, que fica "contratado" pela repetição do comunicado, haveria redução, também em outubro.

No entanto, pondera o economista, o espaço para ajustes de baixa nas taxas parece um pouco limitado, pois os contratos futuros já colocam um corte de 0,15 ponto no Copom de outubro.

Outro ponto destacado por Serrano é o aumento nas avaliações de que a Selic pode levar mais tempo para subir. A curva futura mostra a possibilidade de alta de juro em junho de 2013, com probabilidade de 1,25 ponto de alta. Antes, o ciclo de alta projetado teria início em abril, com 1,5 ponto de aperto monetário.

O foco estará agora, na ata da reunião, que sai na próxima semana. Para Serrano, o documento deve reforçar a surpresa com o fraco crescimento da economia, mas manter as indicações de que o segundo semestre será de recuperação.

O economista-sênior para a América Latina da empresa de análises de mercado 4Cast, Pedro Tuesta, destaca que ao manter o mesmo comunicado de maio, o BC não dá senso de urgência à tomada de decisão. Com isso, a avaliação do especialista segue em mais um corte de 0,50, com Selic a 7,5% ao ano e juro estável por longo período de tempo. Para Tuesta, o BC deve trocar o espaço para cortes adicionais de juros pela possibilidade de não precisar subir a taxa tão cedo.

A reunião de ontem marcou a estreia de Luiz Edson Feltrim, até então secretário Executivo do BC, nomeado diretor de Assuntos Especiais, após ser sabatinado e ter seu nome aprovado pelo Senado Federal. Trata-se de uma diretoria nova do BC, que vai cuidar, dentre outros assuntos, da comunicação externa, principalmente com os usuários do sistema financeiro.

Fonte: Valor Econômico

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